Tradução do original castelhano da Comunicação apresentada por Esteve Jaulent no X CONGRESSO LATINOAMERICANO DE FILOSOFIA MEDIEVAL que se realizou nos dias 18 a 22 de abril na cidade de Santiago de Chile.
Paixões animais ou humanas
no
Livro das Bestas de Ramon
Llull
Esteve Jaulent
(Tradução do
original castelhano)
Veremos primeiro algumas das afirmações de Llull sobre as paixões
humanas, a seguir apresentarei sua fundamentação metafísica e finalmente
mostrarei com alguns exemplos do Livro das Bestas as idéias
expostas.
I
Llull nos diz que as paixões ou sentimentos
humanos são diferentes das paixões animais, pois considera que as primeiras são
atos humanos, resultado da atividade conjunta da alma e do
corpo.
Por ser o homem um composto de alma e corpo,
Llull defende que a corporeidade intervém nas ações humanas com a dignidade que
lhe advém de ser uma parte da pessoa, parte criada por Deus tanto quanto a
alma.
Porém, esclarece que as atividades da alma e do corpo não são
equivalentes. A atividade do corpo deve ter a mesma finalidade que a da alma, e
conseguir isso é missão desta última. Existem, porém, condicionantes nessa
tarefa, tanto do lado do corpo como da alma: a alma dá vida e leva até à sua
plenitude ao corpo, mas este não tem tanta capacidade de receber vida como a
alma tem de dá-la[1]. Além do mais, Llull diz que, na sua atuação, o homem não está
determinado necessariamente, como os outros seres vivos, a dirigir-se para o seu
fim próprio e se o fizer, será de um modo livre e meritório[2].
Por serem distintas as atividades do corpo e da alma, o homem possui
hábitos sensíveis e hábitos intelectuais que nem sempre atuam em harmonia e por
vezes até entram
Precisamente por serem os atos humanos resultado da atividade conjunta do corpo e da alma, as paixões integram também o processo mediante o qual o ser humano engrena com a realidade que o circunda. Dado que o homem deve, em todas as suas ações, perseguir o fim que a razão lhe indica, seus atos passionais também devem concordar com esse fim e, por conseguinte, exigem a existência de um certo conhecimento por parte da pessoa. Haverá, portanto, uma relação entre a perfeição de seus atos passionais e a perfeição de sua lucidez[6]. Se em seus atos passionais o homem atua perseguindo o fim que a sua razão lhe indica, isto é, se as suas paixões são boas, alcançará a unidade consigo mesmo e com a totalidade do real, realizará a sua plenitude racional e caminhará para a felicidade. Se assim não for e se desviar do seu fim, isto é, se as paixões forem más, ocorrerá o contrário e se reduzirá sua integridade pessoal. Llull conclui, portanto, que as paixões boas aumentam nossa lucidez e as más a diminuem. O amadurecimento humano, o crescimento nas virtudes, acarreta sempre um progresso na lucidez mental da pessoa[7].
Llull diz-nos também que o homem alcança sua plenitude pessoal – a bondade a que foi chamado – e se torna o que deve ser, na vida virtuosa, quando aos hábitos naturais de lembrar, entender e amar acrescenta os hábitos adquiridos de lembrar, entender e amar a Deus[8]. E não só a Deus, mas também o modo de ser e de operar que o homem recebeu por criação, a herança divina que Deus pôs dentro dele. Esses hábitos bons adquiridos são as virtudes, que Llull denomina «guardiãs do fim»[9], e têm a missão de iluminar a obra por ele a ser efetuada, de desejá-la, se for boa ou de rejeitá-la, se for ruim. Contudo, o trabalho de modificar as paixões até conseguir que a sensibilidade acompanhe o racional, tem um custo. E este custo é o sofrimento. Sempre que o homem abandona uma paixão e a substitui por outra, sofre, mas só assim é que construirá sua plenitude pessoal. Neste sentido, Llull afirma que a natureza humana é tal que quanto mais sofrer melhor alcançará sua perfeição[10].
Somente com ajuda das virtudes o homem poderá humanizar a sociedade e implantar nela a verdade. Com efeito, a verdade, sem a companhia e a ajuda da virtude, é volátil. Não tem força para impor-se. Na ausência da virtude, a mentira vencerá sempre: «a verdade sozinha não tem nenhum poder contra a falsidade, ajudada por muitos vícios»[11] diz. Além do mais, a mentira disfarça-se de verdade para triunfar, mas a verdade não pode disfarçar-se de mentira, o que constitui para ela uma grande desvantagem. E, mais importante ainda, sem a força e a violência das virtudes, o homem nem sequer saberá distinguir a verdade da mentira, e muito menos implantar a verdade na sociedade. Por isso conclui com certa ironia, referindo-se às diferentes legislações que existem nos povos, que só a verdade evitará que «o curso dos rios decida sobre os crimes que cometem os homens» ou que e a «verdade neste lado dos Pirineus seja um erro no outro lado»[12].
Finalmente, terminarei esta breve coletânea luliana sobre as paixões lembrando que o maiorquino prefere definir o ser humano através de seu ato próprio: humanizar[13]. Llull diz que o homem é um animal homificans, um animal que humaniza, tanto a si próprio como a tudo o que o circunda. Mas o homem só poderá humanizar-se ordenando convenientemente sua atividade prática, e para tanto deverá incorporar o mundo, experimentando-o corretamente: suas paixões, intenções, conhecimentos e amores devem integrar-se com a totalidade que o envolve. Se o conseguir, obterá um conhecimento mais profundo dessa totalidade e poderá humanizá-la por meio de suas produções técnicas e estéticas.
Estas afirmações são, em nossa opinião, sobremaneira surpreendentes, por
diversos motivos. Primeiro porque, acostumados como estamos hoje a considerar o
corpo humano apenas como mero instrumento de uma suposta razão humana autônoma,
encontramos dificuldades em admitir que o corpo seja constitutivo da
pessoa[14]. Em segundo lugar, a antropologia luliana nos pasma, por estar
construída no horizonte da transcendência, perspectiva abandonada hoje pela
maior parte da filosofia. Finalmente, pelas conseqüências inesperadas que Llull
sabe tirar da noção de criação.
Vejamos agora as diversas perspectivas em
que se situa sua especial metafísica e a metodologia que o maiorquino emprega
para contatar com a realidade.
Em nossa opinião, a metafísica luliana
representa um incrível esforço para obter informação sobre a realidade a partir
dela mesma, sem cair na tentação de aproximar-se dela a partir dos conceitos que
dela temos. Toda a Ars luliana está construída com a intenção de evitar
qualquer abstracionismo.
Além do mais, Llull, para
obter informação sobre os entes, considera em primerio lugar suas partes
constitutivas. A realidade aparece-lhe sob a “perspectiva das partes”. Tudo
quando existe, tudo quanto é, tudo o que co-existe, está composto
de partes o sujeitos diferentes, que não se confundem: poderão unir-se em
sistemas mais ou menos complexos, mas nunca se confundirão. Pensar no estatuto
metafísico da parte, porém, não foi invento de Llull. No seu tempo, já se
atribuía também às partes do ente composto – que não devemos confundir com os
acidentes – uma certa composição de matéria e forma, não atual, mas a modo de
hábito[15],
o que permite também que possamos considerá-las como partes até mesmo quando já
estão separadas do todo. Llull optou, sem dúvida, por esta
perspectiva.
Além disso, Llull vê as partes em seus dinamismos naturais[16], porque as vê sob a perspectiva do ato de
ser, e sabe que se tornam partes atuais ao participarem do ser do todo. Llull
destaca, pois, o dinamismo do real. Toda realidade, explica-nos, está
constituída por um ato de ser. É a “perspectiva do ato”, que Llull desenvolverá
na teoria dos “correlativos do ato” na que se nos diz que todos os entes,
substanciais, acidentais ou parciais, possuem uma tridimensionalidade de
forma-matéria-ato, ou sujeito-objeto-ato, ou
ação-paixão-ato. Não se dá nunca uma forma ou sujeito ou ação sem ato,
como também não encontraremos nenhuma matéria, objeto ou paixão sem ato.
Sobressai nessa teoria o papel do ato. Llull diz que a forma é ato, e portanto é
este, e não a forma, quem tem a primazia na hora de principiar o ente. A forma
está em potência com relação ao ato, pois o fim da forma é o ato. Daí que as
diferenças que encontramos nos diversos aspectos dos entes são diferenças com
relação ao ato próprio desses entes. O ato, em Llull, passa a ser visto como um
princípio transcendental supraformal, capaz de unificar tudo, tanto a realidade
como as explicações que dela damos.
Em se tratando do ser humano, por exemplo, Llull descobre nele três
partes constitutivas: a alma, o corpo e o ato que as une, ao qual chama “ato de
ser homem”[17]. As duas primeiras têm, por sua vez, partes ativas e passivas, com seus
atos naturais que, ao inserirem-se uns nos outros, alcançam seu apogeu em dois
atos naturais comuns, o do corpo e o da alma, dos quais resultam duas
substâncias: o corpo humano e a alma racional. O homem surge, por conseguinte,
por força da atividade de um ato superior por meio do qual e no qual a forma
comum[18] e a matéria comum[19] do homem se unem e permanecem unidas[20].
Aos olhos de Llull, o homem surge como
criatura superior que se constitui em ente humano graças a um ato superior que
culmina os atos das partes inferiores e os eleva até uma unidade e harmonia
também superiores. A atividade própria dos elementos que integram a estrutura
ôntica do ser humano depende desse ato emergente e superior, sem o qual aquela
atividade não poderia ter lugar.
A fim de que seja melhor compreendido este
dinamismo da atividade humana, recordemos que Llull distingue em cada uma das
substâncias atos com objetos interiores, aos quais chama “próprios”, e atos com
objeto exteriores, aos quais chama “apropriados”, e afirma uma inserção de uns nos outros
possibilitada pelos seus objetos, pois sempre os objetos exteriores têm-se nos
interiores. Na alma racional, por exemplo, existem atos próprios permanentes de
amor, de conhecimento e de memória, intrínsecos à alma, com os quais o
entendimento se entende, a vontade se ama e a memória se lembra – atos
substâncias, radicais, que nutrem a substância da alma e a mantém naquilo que
ela já é – e atos “apropriados” mediante os quais conhecemos, amamos e lembramos
os objetos exteriores. O fato de os objetos exteriores terem-se sempre nos
interiores, conduz a uma dupla necessidade: os atos apropriados realizam-se
sempre sob o amparo dos atos próprios, sem os quais aqueles seriam
irrealizáveis; e por outro lado, a inexistência de atos apropriados implica a
inexistência de atos próprios.
Este necessidade explica que os atos que o homem vai realizando no uso de
sua liberdade, incluindo-se neles os atos passionais, se tornem, por um lado,
construtores do seu próprio ser e, por outro, sejam fruto desse homem em igual
medida de humanidade por ele alcançada[21]. Isto quer dizer que os atos passionais, os
atos de conhecimento e de amor surgem sempre limitados pelo grau de humanidade
que tivermos conquistado.
III
Llull quis deixar esta doutrina exposta de
um modo literário no Livro das Bestas[22], um dos melhores textos da prosa catalã medieval[23], crua e inteligente alegoria, de valor
universal, sobre as paixões humanas, forças – boas ou más conforme as
circunstâncias – sempre atuantes em nossas ações, e que Llull alegoricamente
apresenta nessa obra incarnadas num grupo de
animais.
Em oito curtos capítulos
revelam-se as dificuldades que o rei Leão encontra para governar.
Carnívoros e
herbívoros, distribuídos em dois grupos antagônicos e portadores de ideologias
diferentes, têm uma clara origem fisiológica. A astuta Raposa saberá manipular
essas forças para obter seus mesquinhos objetivos. No final, sempre por meios
escusos, conseguirá ser a porteira da Câmara real[24].
Ambição, intriga, medo, mentira, adultério,
traição, compaixão, a alegria... todas as paixões humanas reformadas em
distintos graus pelo esforço ou a ausência da razão, revelam ao leitor os
diversos estágios de humanidade em que podemos encontrar-nos.
O adultério, por exemplo, que o Leão comete
com a Leoparda, tem como conseqüência um angustiante combate entre a Onça, a
defender o rei, e o Leopardo, humilhado, no qual tornam-se patentes em que
medida as paixões sustentam os combatentes. O Leopardo, movido pelo ódio ao rei
e confiante na sua boa razão, mata a Onça; contudo, antes a obriga a dizer,
diante de toda a corte, que o rei, era falso e traidor. A seguir, o Leão, tomado
de vergonha e embaraço, cheio de ódio, mata por sua vez o Leopardo, já exausto e
incapaz de defender-se.
Após o crime, o Leão perde lucidez e começa
a ter dificuldades para entender os conselhos dos seus assessores. "O Leão,
depois que pecou e matou o Leopardo não teve mais tanta lucidez e argúcia como
antes e já não alcançava o sentido das palavras pronunciadas pela Serpente. Por
isso pediu a ela que lhas explicasse"[25].
Se o Leão já começara a perder a integridade interior – e, em
conseqüência, a sua capacidade intelectual já iniciara o processo de
deterioração –, o leopardicídio, que fora também outro ato irracional motivado
por um excesso de sentimento mau[26], agravou por demais a intoxicação de sua
mente.
Finalmente, parece-nos que não é por mero
acaso que o Livro das Bestas termine
com um grande urro do Leão representando o poder da força quando é bem usada. É
o único recurso que lhe resta ao Rei para conhecer se é verdade o que lhe diz a
Raposa: que ela não é traidora, e a prova disso será o testemunho do Coelho e o
Pavão. Às palavras da Raposa, o rei
lançou um olhar terrível ao Coelho e ao Pavão, dando um urro fortíssimo. Este
urro, planejado e refletido pelo Leão, simboliza o sentimento ou a paixão
regulado pela virtude racional, e tem o poder de deslocar para o Leão o medo que
o Coelho e o Pavão sentiam antes perante a Raposa; isto é, retifica o sentimento de medo – o medo ruim
troca-se pelo urro em medo bom, o medo perante a mentira – produzindo-se assim o
triunfo da verdade.
[1]
Libre de
contemplació, c.320, 19: «lo cors no pot tanta de vertut haver a
reebre vida e acabament de l’ànima, com l’ànimaha vertut de donar vida e
acabament al cors, car si lo cors podia tant reebre com l’ànima poria donar,
tots temps lo cors duraria e seria incorrumpable» (Obres Essencials, vol. II, p. 1028). “El cuerpo no puede tener
tanto poder de recibir vida y perfección del alma, como el alma lo tiene de dar
vida y perfección al cuerpo, pues si el cuerpo pudiese recibir tanto cuanto el
alma puede dar, el cuerpo duraria siempre y sería
incorruptible”.
[2]
Arbre de
Ciència, 7a. parte (De
l’Arbre imperial), IV, 7: «llibertat és forma intel.lectual donada a home
per ço que francament faça bé e francament esquiu mal; car tan és noble cosa bé,
que de sa noblea és que francament sia fet e no contret» (OE II, p. 1068).
“Libertad es forma intelectual dada al hombre para que haga libremente el bien y
evite libremente el mal, porque el bien es algo tan noble que su nobleza exige
que sea hecho libremente y no forzado”.
[3] Cf. Libre de
contemplació, c.194, 2. (OE vol II, p. 570): “ e com s’esdevé que la
sensualitat e la intel.lectualitat prenen en costuma que s’acorden ensems en la
potència sensitiva e.s desacorden en la potència racional, adoncs és significat
que les costume sensuals i intel.lectuals són males costums i desordonades”.
“…car per lo qual concordament (de les intel.lectualitats e les sensualitats en
la sensitiva) la sensitiva esdevé dona de la racional”. “Cuando la sensibilidade
y la intelectualidad se acostumbran a ir juntas en la potencia sensitiva pero
son contrarias entre si del punto de vista de la potencia racional, entonces es
señal de que los costumbres sensible y intelectuales son malos y desordenados”.
“pues por el desacuerdo (de las
intelectualidades y la sensualidades en la sensitiva) la sensitiva se torna
dueña de la racional”.
[4] Cf. id. c.194, 2, 21 (OE vol.
II, p. passim. “car regla general és que
tot home se pot mudar de malvada costuma a bona pus se vulla”. “pues es regla
general que qualquier hombre puede trocar sus malos costumbres en buenos si
quiere”.
[5] Cf. id. c.194, 2, 21 (OE, vol.
II, p. 572):’car li es posible
cosa que faça concordar les sensualitats ab les intel.lectualitats en la
potencia racional e que les desacord en la potencia sensitiva, car així,
Sènyor, (…) esdevé hom ben
acostumat com les sensualitats són acordants e sotsmeses a les entel.lectuïtats
en la potència raiconal”. “pues le es posible hacer concordar lo sensible con lo
intelectual en la potencia racional y al mismo tiempo conseguir que sean
contrarias en la potencia sensitiva, y así, Señor, (…) se troca en hombre de
buenos costumbres al concordar lo sensible y submeterse a las intelectualidades
en la potencia racional”.
[6] Cf. id.. 166,9 (OE, vol II p. 475): “Si de tot en tot, Sènyor, hom no desembarga les intel.lectualïtats de les sensualitats, en nulla manera hom no pot bé tractar de les coses intel.lectuals; mas com hom mortifica em si total la natura sensual e puja hom tota as pensa a les coses entel.lectuals, adoncs, per lo mortificament que hom fa de les coses sensuals, pot hom haver libertat a tractar diligentment de les coses intel.lectuals”. “Si de vez en cuando, Señor, no se limpian los objetos intelectuales de los sensuales, de ningún modo el hombre no podrá tratar adecuadamente de las cosas intelectuales, mas cuando mortifica en si la naturaleza sensible y eleva su pensamiento hacia las cosas intelectuales, entonces, por la mortificación que se hace de las cosas sensibles, se puede tener libertad para tratar convenientemente las cosas intelectuales”.
[7] O homem reconquistará a
sua lucidez mediante os hábitos bons, obras racionais, fruto da liberdade
humana. Os hábitos bons possibilitam a penetração do racional na sensibilidade,
acabando de vez com a indeterminação dos
sentimentos.
[8] Para o tema da
moral luliana, cf. «Virtudes e contemplação», Esteve Jaulent, em Livro do
amigo e do Amado, Raimundo Lúlio, Ediçóes Loyola, São Paulo 1998, p.
133-150.
[9] Cr. Miquel Colom Mateu, Glossari General lul.lià, vol. V, Editorial Moll, Mallorca 1985, p. 362.
[10] Cf. Felix, o libre de les meravelles, l. 8, passim. (OE I, p.392-498)
[11] Cf. id, lib. 8, (OE, vol. I, p.440).:”E enaixí, fill, veritat sola no há poder contra falsetat a qui molts vicis ajuden”. “Y así, hijo, la verdad sola no tiene poder contra la falsedad a quien muchos vicios ayudan”.
[12] Cf. Armand
Llinarés, Ramon Llull, Edicions 62, Barcelona 1987, p.
256-257.
[13] Entre os diversos
tipos de definição apresentados por Llull, a definição pelo ato próprio parece
ser, na perepectiva dinâmica de sua metafísica, a mais
adequada.
[14] Llull afirma que
o ato de ser homem é mais nobre que o ato de ser alma, uma vez que a alma é
parte do homem e o todo é sempre mais nobre que a parte. Contudo o primeiro
depende do segundo pois, por ser a alma a que constitui o corpo num corpo
humano, só existirá homem se houver nele uma
alma.
[15] Cf. o opúsculo De natura Generis, n. 519 de S. Tomás de
Aquino, cuja autenticidade é discutida: “Cum autem materia non possit esse per
se, pars autem per se esse possit, cum in hoc differat ab accidente, sed non
secundum quod pars est, sed secundum quod ens per se quod inest sibi a toto,
necessario in eo quod pars est , est aliqua compositio materiae et formae, non
quidem actualis sed quasi habitualis in parte quae possit subsistere a toto
divisa quia quod actu subsistit convenit sibi non secundum quod pars est, quia
hoc habet a forma totius a qua esse habet actu pars participative tantum, cum
impossibile sit duo esse substantialia in una re ponere, nisi illa res sit duo
entia, cum esse sit actus entis. Compositum ergo ex illa materia et forma non
erit aliquod ens actu. Unde nec istam formam aliquod esse sequitur, cum esse non
sequatur formam nisi quando compositum est per se existens, cuius est esse
actu.”
[16] Veja-se nota n.
14.
[17] Para o tema do
ser do ente humano, cf. «Antropologia lul.liana», Esteve Jaulent, em “Què
és l’home? Reflexions antropològiques a
[18] São as formas
ativas do corpo e da alma, assimiladas entre si por suas atividade e fins. Cf.
Ramon Llull, Libre de home, ORL, XXI, p.28: “que les formes actives de la
ànima e les formes actives del cors se ajusten per ço car s asemblen per actió e
s an per si a una comuna forma de home qui és d ambdues, ço és de la forma de la
ànima e de la forma del cors que són ses parts”. “Las formas activas del alma y
la formas activas del cuerpo se unen, pues se parecen por sus acciones y
constituyen un forma común de hombre que se forma de ellas dos, la del alma y la
del cuerpo, que son sus partes”.
[19] São as matérias
passivas da alma e do corpo, movidas por suas respectivas formas, mas de tal
modo que a atividade da forma da alma é preponderante: é sempre a forma da alma
a mover a forma do corpo para que esta mova a matéria do corpo para um fim comum
a ambas as matérias. Cf. Ramon Llull, Libre de home, ORL, XXI, p.28: “e
les matèries passives de l ànima e les matèries passives del cors són ajustades
i mogudes per lurs formes e semblances, movent emperò la forma de l ànima la
forma del cors que mova la matèria del cors a una fi de matèria comuna ajustada
d ambdues e en terç nombre posada e passada per ço car la matèria de l ànima e
la metèria del cors són ses parts e ella es lur tot”. Note-se neste trecho,
assim como no apresentado na nota anterior, a “perspectiva da parte” típica do
maiorquino. “las materias pasivas del alma y las materias pasivas del cuerpo se
unen y se mueven por sus formas y semejanzas, peró siendo la forma del alma la
que mueva la forma del cuerpo a mover la materia del cuerpo hacia el fin de una
materia común, fruto de la unión de ambas y puesta y transformada en tercer
número pues la materia del alma y la del cuerpo son sus partes e ella constituye
el todo”.
[20] Cf. Ramon Llull,
Libre de home, ORL, XXI, p.28: “E açò mateix dels actus de l ànima e del
cors, qui sajusten, e de lur conjunyiment e ajustament resulta e hix home qui
passa e està en terç nombre, e és lo tot simple en nombre de home, segons sa
diffinició, e ses parts són la sua forma comuna e matèria comuna e l actu comú
que dit havem. E en axí home està en lo som”. “Y esto también es lo que ocurre
con el acto del alma y del cuerpo, que se unen, y de su unión y ajuste resulta y
sale el hombre y pasa a ser y se encuentra en tercer número y es un todo simple
en número de hombre, según su definición, y sus partes son su forma común, su
materia comun y su acto común, según hemos dicho”. Sobre o sentido do som luliano, cf. S.
Trias Mercant, “Nota sobre la pregunta antopològica lul.liana”,
[21] Somente alguém que, como ele, tenha descido, um a um, todos os degraus da miséria humana será capaz de falar-nos da criatura humana com tanta verdade: “la pus mala bèstia qie soa em aquest món, veig que és home, car jo no veig que nulla bèstia aucia si mateix, e veig que alcuns homens aucien si maateixs, ni nulla bèstia no veig Sènyer, qui tantes bèsties aucia de as espècie com home, ne no veig que neguna bèstia aucia de tantes maneres de bèsties e d’aucells e de peixs com home; e doncs, Sènyer, qual bèstia és tan mala com home?”. "Veo que la peor bestia que existe en este mundo es el hombre, pues ninguna outra se mata a si propria; ni veo, Señor, otra que como el hombre mate tantas otras de su misma especie, ni mate, de maneiras tan diferentes, tantos animales, pájaros y peces como él. Entonces, Señor, que outra besta es tan mala como el hombre?" Cf. Libre de Contemplació, cp. 108, 22. ( OE Vol. II p. 331).
[22] Cf. Raimundo
Lúlio, Livro das bestas, Edições Loyola Ltda., São Paulo
1990.
[23] Escrito antes de 1286, Lúlio posteriormente o inseriu no Felix, o Livro das Maravilhas do Mundo, uma enciclopédica novela filosófica que narra as aventuras de Félix, um andarilho cujo ofício era "maravilhar-se com as maravilhas do universo" e que aparece na Introdução do Livro das Bestas, quando se dirige para o local onde alguns animais selvagens reunidos numa clareira do bosque escolhiam seu rei.
[24] Na época era um alto cargo que conferia muito poder ao seu titular pois, além de ter sob seu controle a agenda do rei, os porteiros eram também seus cobradores, tendo autoridade para citar e até penhorar os bens dos devedores do reino. Cf. Antonio de Moraes Silva, Dicionario da Lingua Portuguesa, Typ.Lacérdina, Lisboa, 1813 vol.II págs. 475 e 476.
[25] Parece-nos que a concepção luliana da lucidez, pelas perspectivas de aplicação prática que apresenta, é um dos temas que mais deveria atrair os estudiosos de sua obra, toda ela impregnada dessa doutrina que, além do mais, foi profundamente experimentada pelo próprio Llull. Referindo-se a si próprio, nos anos anteriores à sua conversão, conta-nos que "como el agua barrienta, sucia y envenenada, así estan llenos de tinieblas mis pensamientos." Cf. Libre de Contemplació, c. 166,22 . (OE, vol. II pp. 476-477).
[26] "…tomou-se de tanto ódio... que se não pode conter", diz-nos o narrador.