| Nestes belíssimos e inteligentes contos filosóficos, Félix Raimundo, a personagem criada por Carlos Vargas, Mestre em Filosofia, discute os temas da Amizade, da Vocação, da Consciência, do Estado, da Mística, do Casamento, da Virtude, da Gravidez e da Morte, por meio de lúcidos diálogos mantidos com seus confidentes amigos. Félix está à procura do ser humano, pois pensa - como o antigo Diógenes - que "esta espécie deixou de existir desde que as pessoas deixaram de ser gente". As perguntas do protagonista nem sempre recebem uma resposta à altura, mas sim revelam a profunda desilusão que parece envolver-nos hoje a todos. À medida que a leitura avança, aprecia-se o amadurecimento de Félix na sua arte de perguntar. Nisto consiste o segredo do livro. As argumentações mútuas vão descobrindo ao leitor porque a confusa paisagem interior tanto faz sofrer os seres humanos fracassados. A teimosia de Félix em sua procura de sentido desenha, assim, um forte contraponto cultural. Carlos Vargas, em sua apresentação, revela-nos que se inspirou na personagem Félix, protagonista da novela medieval Felix, ou o livro das Maravilhas do mundo, do filósofo catalão Raimundo Lúlio para criar seu próprio Félix. Ambos vão pelo mundo maravilhando-se do que encontram nele e, com muita frequência, também do que não encontram. O Félix de Carlos Vargas mostra-nos nestes contos a sua antropologia filosófica. Raimundo Lúlio, embora conhecido pela sua teologia racional, afirmava que o ser humano "foi criado para entender." Ao leitor, sem dúvida, será proveitoso contrastar o pensamento do Félix brasileiro com o do Félix catalão. Esteve Jaulent |