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História da língua catalã
As línguas românicas

As línguas românicas ou neolatinas são aquelas que provêm da evolução espontânea do latim popular nos diferentes territórios que compunham o Império Romano depois de ruir.

O espaço em que atualmente se falam línguas derivadas do latim denomina-se România; divide-se em dois grandes blocos: oriental (italiano e romeno) e ocidental (galego-português, castelhano, catalão, occitano, francês e reto-românico). Os critérios seguidos para estabelecer esta divisão são: o mantimento ou a sonorização das oclusivas surdas intervocálicas (-p-, -t-, -k- > -b-, -d-, -g-) e a realização do plural com vogal (procedente do nominativo latino) o com esse (procedente do acusativo). Aproximadamente, a linha que se considera como fronteira entre estes dois blocos é a que vai entre as cidades italianas de La Spezia e Rimini. Separa os dialetos italianos em dois grupos pertencentes às duas Românias. O sardo é um caso à parte, já que compartilha traços dos dois blocos (não sonoriza e faz os plurais com esse).

A România lingüística não coincide totalmente com o Império Romano. Na parte oriental deste a língua de cultura era o grego, admirado pelos romanos. Apesar disso, há registro de duas línguas românicas extintas no Oriente, o dálmata que perdurou com dificuldades até o século XIX, e o romance norte-africano, que desapareceu com a invasão árabe. Nas zonas mais debilmente romanizadas (Germânia, Panônia, Britânia, Vascônia), ao cair o Império o latim desapareceu a favor das línguas autóctones ou dos povos invasores.

Atualmente, por razões histórico-políticas algumas ou parte destas línguas ficam englobadas dentro de estados que usam outras (românicas ou não) como oficiais. Assim, dá-se partida a um processo de bilingüização que pode desembocar numa substituição lingüística.
Por outro lado, existem umas variedades lingüísticas (asturo-leonês, aragonês, gascão, franco-provençal, corso, norte-italiano, vêneto, sul-italiano, siciliano) com uma personalidade muito marcada; poderiam, inclusive, ser consideradas como línguas se fossem deixados de lado fatores extralingüísticos. Os chamados "dialetos italianos" tiveram mais vitalidade do que o resto das variedades porque o processo de satelitização é muito tardio (unificação italiana do século XIX). As outras, como o aragonês e o franco-provençal, iniciaram esse processo a partir dos séculos XII e XIII.

A época pré-romana

Antes da chegada dos romanos, habitam a zona dos Países Catalães povos de vária procedência. Na área pirenaica encontramos povos que mantiveram falas bascóides até o século X ou XI. Na costa vivem os povos de cultura ibérica (população autóctone com influências da cultura grega e fenícia). Nas Baleares existe uma cultura própria, a talaiótica, certamente proveniente do Mediterrâneo oriental. Mais tarde chegam povos indo-europeus emigrados do centro da Europa e espalham-se pelo centro da atual Catalunha.

Posteriormente, os gregos e os cartagineses fundam colônias comerciais nas costas e entram em contato com os indígenas. Os gregos se assentam em Empúries e Rodes e os cartagineses em Eivissa (Ibiza).

As línguas destes povos constituem o substrato do catalão, mas por causa da forte romanização a sua influência é débil. O legado lingüístico pré-romano se centra basicamente na toponímia e um pouco de léxico esquerra "esquerda", pissarra "lousa", paparra "carrapato", são palavras de origem bascóide ou ibérica; ble "mecha", llauna "lata", carro "carroça", rusc "colméia"; são de origem indo-européia.

Formação e expansão do Império Romano

Em 218 a.C. as tropas romanas que combatiam os cartagineses entram por Empúries. Começa assim a dominação romana, que dura até o século V d.C. Esta não é simplesmente política, mas também cultural e lingüística. É o processo que se chama romanização, pelo qual os povos autóctones têm de adotar a língua e a cultura latinas. A romanização se inicia nas zonas costeiras através das cidades e das vias de comunicação, e depois penetra progressivamente em direção ao interior.

O latim da Tarraconense é o dos soldados, dos mercadores e dos colonos; portanto, uma língua bastante popular, se o comparamos com o de outras zonas, como a Bética, onde é de tipo mais culto. Esse latim inovador é o que será a base do catalão

A situação histórica e lingüística antes do século XIII

As invasões germânicas do século V produzem o afundamento do Império Romano. Assim se quebrava o último freio que impedia a evolução e a diferenciação do latim popular e a ruptura da consciência de unidade.

Os visigodos, expulsos da Occitânia pelos francos, instalam-se na península Ibérica. Este povo, a longo prazo, adota a língua e a cultura dos conquistados. Portanto, o superstrato germânico, no caso do catalão, reduz-se, sobretudo, a léxico majoritariamente de tipo militar (guerra, espia, guaita "vigia", elm "elmo"), antropônimos (Aribau, Guifré, Arnau e muitos outros nomes que constituem uma parte importante na onomástica catalã), e topônimos (Riquer, Llofriu, Guimerà, la Geltrú). Estes topônimos germânicos concentram-se na Catalunha Velha, certamente pelo reforço da posterior influência franca.

No século VIII a Península é invadida pelos árabes. Estes, duma forma rápida e pactária com os nobres locais, controlam a maior parte da Hispânia e conseguem a arabização e a islamização do território. Nas suas incursões chegam até Poitiers (732), onde são detidos e derrotados pelos francos. Carlos Magno, imperador franco, no seu afã de restaurar o Império Romano do Ocidente, leva a cabo uma política expansionista, pelo que cria um sistema defensivo e expansivo ao mesmo tempo nas fronteiras: as marcas. Depois de Poitiers, os francos, para deter os árabes, conquistam o norte da Península até o Llobregat. A zona pirenaica oriental torna-se a Marca Hispânica, que fará parte do Império Carolíngio. Este é o núcleo original da Catalunha. A Marca é organizada em condados que dependem teoricamente dos imperadores carolíngios, mas que na prática têm uma grande capacidade de decisão própria. A distância e a debilidade do Império levam a um enfraquecimento dos vínculos políticos, a ponto de, durante o mandato de Borrelo II [Borrell II] (947-992), conde de Barcelona, acabarem quebrando-se. Isto pode ser considerado o início da independência dos condados catalães (no século IX). Logo o condado de Barcelona transforma-se no centro aglutinador. Por causa da presença árabe no sul, as relações dos condados catalães encaminham-se majoritariamente em direção ao norte, em direção à Occitânia. Os condes barceloneses chegam a possuir e a controlar vastos territórios occitanos, sempre em concorrência com o condado de Tolosa. Esse domínio finaliza com a batalha de Muret (1213), na qual Pedro o Católico é derrotado pelas tropas franco-tolosanas. Fechada a expansão para o norte, o único caminho é o sul, onde o poder central árabe se debilitou e os territórios muçulmanos se dividiram em pequenos reinos, chamados taifas. Este enfraquecimento e divisão é aproveitado pela Coroa catalano-aragonesa, que se expande pelo sul.

A invasão árabe é importante lingüisticamente porque possibilita a diferenciação e o nascimento dos vários romances hispânicos, acuados em zonas montanhosas e mal comunicadas. A partir do século IX o latim popular evoluiu de tal modo que já existe a consciência de falar algo diferente: as falas românicas. Portanto, a partir desse momento o latim falado nos condados catalães, na Catalunha Velha, já pode ser considerado catalão. Esta deve ser a zona original da língua catalã, o único romance peninsular que se forma em contato com o occitano por razões geopolíticas. Esta é a causa das semelhanças catalano-occitanas, que originam a qualificação do catalão como língua galo-românica. O catalão dos séculos IX-XI é conhecido com o nome de catalão pré-literário, pelo fato de não ter textos escritos, já que a língua da escrita por excelência é o latim. Precisamente, conhecemos o estágio evolutivo do catalão por meio de textos latinos escritos por pessoas pouco destras no uso desta língua, que deixavam escapar alguma "catalanice" de vez em quando.

Como já dissemos antes, o núcleo primitivo do catalão reduz-se aos condados catalães na maior parte da Catalunha Velha. No Pallars e Ribagorça mantém-se uma ilhota de língua pré-romana, certamente de tipo bascóide, até os séculos X e XI por razões de isolamento geográfico. A catalanização deste território está ligada à sua cristianização. O Capcir, segundo Joan Coromines, era uma área lingüisticamente occitana que progressivamente foi se catalanizando, e deu como resultado o atual dialeto de transição falado nesse vale. Inclusive, aponta a hipótese de a variante do Rossilhão, originalmente, ser um dialeto de transição occitano-catalão, do mesmo aspecto que o atual do Capcir.

Na zona sob o poder árabe do futuro domínio catalão (a Catalunha Nova, o País Valenciano e as Ilhas Baleares), depois da invasão, mantêm-se durante bastante tempo umas falas autóctones derivadas do latim, mal conhecidas. Com a progressiva arabização e islamização dos hispano-romanos, estas falas conhecidas sob o nome genérico de moçárabe vão desaparecendo, a ponto de certamente não existirem mais quando se produz a conquista catalano-aragonesa. Embora o moçárabe seja pouco conhecido, é certo que não era unitário e que estava fragmentado em vários falares. Joan Coromines mantém a hipótese de que o moçárabe da zona de Lleida e de Tarragona era muito achegado ao catalão, à diferença do de Tortosa, do País Valenciano e das Baleares. Através da toponímia, podemos deduzir traços destas falas moçarábicas, como o mantimento do -o final (Caro, Pego, Muro), a não sonorização as oclusivas surdas intervocálicas (Petra, Orxeta), e a presença de sufixos próprios -atx, -itx, -utx (Andratx, Llinàritx, Fornalutx).

Embora a sua incorporação tenha se produzido durante o século XIV, seria preciso falar de l'Alguer, já que nesta cidade sarda a população autóctone é expulsa pelos catalães e repovoada por gente do Principado; o núcleo manteve-se até hoje, apesar do isolamento demográfico e a exigüidade da população.

A expansão catalã no século XIII

Em 1137 o rei de Aragão, Ramiro o Monge, entrega a sua filha Petronila ao conde catalão Raimundo Berengário IV [Ramon Berenguer IV]. A partir deste momento produz-se a união dinástica do condado de Barcelona com o reino de Aragão. Esta união dá-se nuns termos que hoje em dia poderiam ser considerados de confederação, já que cada reino conserva as leis e as instituições próprias. A casa da Catalunha-Aragão leva a cabo a expansão em direção ao sul muçulmano. Numa primeira etapa, conquista-se a Catalunha Nova e o sul de Aragão (no século XII). Numa segunda, no século XIII, anexam-se as Ilhas Baleares e o País Valenciano até a linha Biar-Bussot. Porém Menorca continua sendo um território muçulmano tributário do rei catalano-aragonês até 1287. Num terceiro momento, a partir de 1266, conquista-se a demarcação de Oriola, que já tinha sido ocupada e repovoada por Jaime I junto com a várzea murciana, que cedeu a Castela. A expansão política catalã significa a submissão ou a expulsão dos muçulmanos e um posterior repovoamento. Isto comporta a substituição lingüística do árabe pelo catalão. A Catalunha Nova e as Baleares são repovoadas integramente com catalães, e a primitiva população árabe é majoritariamente expulsa. Os repovoadores das Baleares procedem principalmente da zona oriental do Principado, o que pode explicar alguns traços dialetais do baleárico atual (iotacismo, neutra tônica, artigo es/sa...). O caso valenciano é diferente. A falta de repovoadores obriga Jaime I a conservar grande parte da população árabe, que são chamados, a partir de agora, de mouriscos. Além disso, o repovoamento foi feito por catalães e aragoneses. Os primeiros dominarão o litoral e os segundos se concentram no interior, o que explica a partição lingüística do País Valenciano. A expansão e o repovoamento chegam até as terras da várzea murciana, onde, apesar de fazer parte da coroa castelhana, se fala catalão até o século XVI.

Esta máxima expansão da língua catalã experimenta posteriormente um retrocesso. Na várzea murciana e no baixo Segura o catalão desaparece a partir do século XVI pela influência e imigração castelhanas. Ficam bastante catalanismos no castelhano dialetal de Múrcia (o panocho), como pernil 'pernil' "presunto" (cast. jamón), pésoles 'pèsols' "ervilhas" (cast. guisantes), pancha 'panxa' "pança" (cast. panza). Em relação ao País Valenciano, a definitiva fronteira lingüística castelhano-catalão fica fixada a partir da expulsão dos mouriscos (no século XVII), quando uns e outros ocupam os vazios deixados por estes. Isto explica as ilhotas de Asp e Monfort, antigos lugares mouriscos, que foram repovoados com castelhanos. Também justifica os falares dialetais com traços maiorquinos de Tàrbena e do vale de Gallinera, que são terras repovoadas no século XVII por maiorquinos. Igualmente houve um pequeno retrocesso na Ribagorça, motivado pelo despovoamento de zonas fronteiriças por causa da Guerra dos Segadores (no século XVII) e um posterior repovoamento aragonês.

Na segunda metade do século XIII, a língua supera a etapa arcaica primitiva e torna-se uma língua literária e administrativa, com figuras como Ramon Llull.

A expansão da Coroa catalano-aragonesa (séculos XIII-XV)

No século XIV produz-se a expansão da Coroa catalano-aragonesa pelo Mediterrâneo: Sardenha, Nápoles, Sicília, e Atenas e Neopátria, na Grécia (expedição dos almogávares). Torna-se uma grande potência política i comercial. Isto repercute no catalão, que adquire a categoria de língua européia de prestígio. É uma língua conhecida em muitas cortes e bastante usual entre os comerciantes do Mediterrâneo.

A língua catalã influi sobre os idiomas dos territórios dominados de diferente maneira. No caso da Sardenha, a influência é muito mais profunda que no resto, porque foi a língua oficial, junto com o latim, até o século XVII. Isto se reflete na grande quantidade de catalanismos léxicos que tem o sardo, sobretudo nos dialetos meridionais (campidanês). Por exemplo, conservam-se nomes de peixes como surellu 'sorell' "xaréu", aragna 'aranya' "peixe-aranha", nomes de ofícios como fusteri 'fuster' "carpinteiro", judji 'jutge' "juiz", pikkaperderi 'picapedrer' "pedreiro", i outros como mukkadori 'mocador' "lenço" e arrekkadas. E, ademais, existe l'Alguer, onde se fala catalão porque no século XV a população autóctone sarda é afugentada e substituída por catalães.

Na Sicília e em Nápoles a influência é menor; porém, sobretudo na Sicília, há uma importante colônia catalã, que nos deixou uma extensa documentação. Além disso, o catalão é a língua da Corte e de parte da nobreza. Nos dialetos sicilianos e napolitanos perduraram catalanismos como cairedda 'cadira' "cadeira", ngargiola 'garjola' "xilindró", imbolicari 'embolicar' "envolver", "enredar", etc.

Em Atenas e Neopátria só podemos falar duns contatos lingüísticos que não deixaram testemunhos no grego, mas sim no catalão. Trata-se de helenismos medievais centrados no léxico marinheiro, como palangre "linha de pesca", politx, xarxa "rede", ormejar "armar", escar "varadouro", etc.

A península Ibérica dos séculos XV-XVII

A Coroa de Castela torna-se no século XV cada vez mais o núcleo hegemônico da península Ibérica. Dá-se partida a este processo com a união dinástica da Coroa de Aragão e da castelhana (1479). Isto comporta para as catalães a perda duma corte própria e da Chancelaria Real, início da progressiva subordinação política, lingüística e cultural a Castela. Este processo continua com a conquista do último reduto árabe da Península, o reino de Granada (1492), com a anexação de Portugal (1580-1640). Embora Castela seja o centro predominante, o Estado funciona como uma confederação cada vez mais debilmente, até os Bourbon.

Esta época é conhecida com o nome de Decadência, que é um processo que se enceta no século XV e perdura até o século XIX. Este processo se inicia por uma série de acontecimentos sociopolíticos. No século XV a Catalunha encontra-se exausta pelas guerras civis e pela peste que despovoou e arruinou o país. A preponderância dentro da Coroa de Aragão passa a Valência, foco de máximo esplendor econômico e cultural do século. No século XVI tem lugar a revolta das Irmandades (Germanies), que afeta Valência e as Baleares. É um embate das classes populares (comerciantes, mesteirais e camponeses) com a aristocracia. A derrota dos irmandinhos significa um empobrecimento do país e uma subordinação das classes dirigentes a Castela, sem ajuda da qual não teriam podido vencer. No século XVII, a política absolutista do conde-duque de Olivares provoca revoltas em Portugal e na Catalunha. Portugal consegue a independência, porém a revolta dos segadores fracassa e comporta a perda do Rossilhão, que passa a mãos francesas (1659). Também no século XVII produz-se a expulsão dos mouriscos, que deixa despovoado o campo valenciano e agrava a crise. Todos estes acontecimentos têm como conseqüência a perda de poder político, a crise econômica e a subordinação das classes dirigentes autóctones às castelhanas.

Esta preponderância política implica uma expansão do castelhano à custa de outras línguas peninsulares, ganhando-lhes terreno ou funções. A seguir comentaremos o panorama lingüístico da época. Quanto ao galego-português, cabe diferenciar a situação da Galiza e a de Portugal. Na Galiza as classes dirigentes já estavam castelhanizadas. Em Portugal, durante a sua união com Castela, conserva-se a oficialidade do português, embora comece uma bilingüização da aristocracia que fica cortada com a independência.

O asturo-leonês e o aragonês já faz tempo que ficaram subordinados ao castelhano. Este processo, que se inicia dentro das classes mais poderosas e cultas, já afeta as classes populares, que hibridam a sua fala cada vez mais com o castelhano. Isto provoca o retrocesso destas línguas, o acuamento nas zonas montanhosas e a perda de consciência lingüística, com todas as conseqüentes conotações de falares rurais.

A situação do basco é semelhante. As classes altas e as cidades se castelhanizam e esta língua experimenta um forte recuo territorial.

Os mouriscos conservam a sua fala árabe pelo fato de serem comunidades fechadas e ser a língua um símbolo da sua cultura, apesar da forte pressão castelhanizadora.
Quanto ao catalão, a situação é diferente e melhor, já que a língua é oficial e tem toda uma tradição cultural e literária por detrás. De todo jeito, a perda de poder político e econômico comporta o início dum processo de substituição lingüística: a Decadência. Este fenômeno, como sempre, inicia-se nas classes altas. O castelhano, como língua da Corte, vai se introduzindo e ocupa os usos e funções elevados, deslocando o catalão. A produção escrita, tanto literária como documental, míngua consideravelmente e a que há se subordina aos modelos castelhanos. Pouco a pouco, o castelhano torna-se a língua de cultura dos catalães. Além disso, na linguagem coloquial vão penetrando cada vez mais castelhanismos. Outra conseqüência da perda de poder é o enfraquecimento da consciência da unidade lingüística. Enceta-se durante o século XV em Valência, que começa a marcar distâncias com respeito à Catalunha por causa da sua pujança econômica e do seu florescimento cultural. A falta dum poder aglutinador, como é a Chancelaria, acelera o processo de fragmentação dialetal. Tudo isso provoca a aparição das primeiras manifestações de secessão lingüística.

A Guerra de Sucessão

A culminação do processo de decadência é a Guerra de Sucessão. Morto Carlos II sem descendência, sobe ao poder o pretendente francês Filipe de Bourbon, fronte ao aspirante austríaco, o arquiduque Carlos. Castela e a França apóiam Filipe V, e a Coroa de Aragão, Áustria, Inglaterra, Holanda, Portugal e Prússia, o arquiduque Carlos. Nesta guerra misturam-se, por um lado, o modelo de estado (absolutista, o de Filipe; confederativo, o de Carlos) e, por outro, a luta pela hegemonia européia para evitar o predomínio francês. Os exércitos franco-espanhóis conquistam a Coroa de Aragão, e as potências que apoiavam o arquiduque austríaco acabam aceitando o rei Bourbon em troca das últimas possessões espanholas na Europa. Pelo tratado de Utrecht (1713) cede-se Gibraltar e Menorca à Inglaterra. Menorca, sob domínio britânico, será o único lugar onde o catalão é língua de cultura e oficial.

Pelo Decreto de Nova Planta (1716), o resto da Coroa de Aragão perde definitivamente o poder político que lhe restava e as suas instituições. Os Bourbon imporão progressivamente o castelhano, de modo que o catalão escrito fica gradualmente limitado à igreja, ao ensino primário, à administração local e à documentação privada, incluída a notarial.

Em fins do século XVIII a Catalunha supera a crise econômica iniciada no século XV e nasce uma burguesia mercantil. Embora esta classe ilustrada creia que o catalão só é apto para usos familiares, desperta-se um interesse em conhecer a história e a cultura catalãs medievais; interesse que põe as bases da Renaixença.

O século XX

O século XIX abre-se com a invasão francesa de 1808, que ocasiona a anexação temporal da Catalunha ao império francês. Até a época da Restauração, com Afonso XII, o Estado espanhol vive um constante embate entre absolutistas e liberais. Na Catalunha, as cidades industrializadas pendem para o liberalismo, as zonas mais rurais para o absolutismo ou para o carlismo. Um exemplo da lenta modernização do Estado é a divisão provincial, calcada no modelo francês. São feitas três divisões provinciais, cuja derradeira é a atual.

O regime constitucional faz desaparecer o catalão de todos os usos públicos, administração municipal, ensino elementar e tabelionato, e obriga a Igreja a redigir castelhano toda a documentação (registros paroquiais, atos capitulares, etc.) ali onde ainda se faz em catalão.

Lingüisticamente, entre as classes dirigentes catalãs segue a crença de que o catalão não é apto para usos oficiais, apenas é válido para o ambiente familiar. Literariamente, aceita-se inicialmente para a poesia e não para outros gêneros literários.

A Catalunha se industrializa, enquanto o País Valenciano e as Baleares permanecem agrários. Esta burguesia catalã, no princípio do Estado liberal espanhol, inclina-se cada vez mais pela opção nacionalista. Este clima favorece a aparição da Renaixença ("renascimento"). É um movimento estritamente literário, e às vezes folclórico, que pretende a recuperação da língua e da cultura catalãs. Este movimento tem bastante incidência na Catalunha, é mais discreto nas Baleares, tem muito pouca força no País Valenciano e nula na Catalunha do Norte. A partir de 1890, põem-se as bases do Modernismo, movimento em que confluem a recuperação e a modernização culturais e lingüísticas com o nacionalismo político. É durante esses anos que Pompeu Fabra, por meio de L'Avenç ("O Avanço"), começa a pôr os fundamentos da sua reforma lingüística, a qual se concretiza nas Normes ortogràfiques ("Normas ortográficas") de 1913. Durante a época da Mancomunitat todo este esforço individual normalizador do catalão se institucionaliza. De novo o catalão é usado pela administração local. Cria-se toda uma infra-estrutura cultural de escolas, bibliotecas, etc.

A Constituição republicana de 1931 e o Estatuto de autonomia de 1932 permitiram recuperar o governo da Catalunha (a Generalitat) e que o catalão fosse declarado língua co-oficial, o que comportou a realização duma intensa atividade política de apoio ao seu ensino. A Guerra Civil espanhola (1936-1939) interrompeu os processos autonomistas das Ilhas Baleares e das terras valencianas. Depois da guerra, a ditadura franquista (1939-1975) perseguiu o catalão de forma intensa e sistemática com a proibição absoluta de utilizá-lo na Administração, no ensino, nos meios de comunicação, nas associações, na edição de livros, jornais ou revistas, no envio de telegramas, nas emissoras de rádio e de televisão, no cinema, na documentação administrativa, tabeliônica, judicial ou comercial, na sinalização viária e comercial, na publicidade etc. Estas restrições não se suavizaram até os anos 60. Nesse tempo muitos escritores formados na época anterior, alguns deles do exílio, como Josep Carner, Carles Riba, Josep Maria de Segarra, Josep Vicenç Foix, Josep Pla, Salvador Espriu, Mercè Rodoreda, Pere Calders, Joan Fuster, Vicent Andrés Estellés ou Llorenç Villalonga escreveram obras de grande relevo.

Apesar de tudo, a língua catalã manteve-se como língua de transmissão familiar em todos os territórios de fala catalã até que, com a recuperação das liberdades democráticas, normalizou-se o seu uso em escolas, meios de comunicação, mundo econômico e indústrias culturais.

A Constituição espanhola de 1978 reconhece a pluralidade lingüística do Estado e estabelece que as línguas espanholas diferentes do castelhano podem ser oficiais de acordo com os estatutos de autonomia.

O catalão hoje

O catalão tem algumas das características das chamadas línguas minoritárias, como uma população bilingüizada, a pertença dos territórios a estados mais extensos onde a língua da maioria é outra. Não obstante, o catalão não pode ser considerado uma língua minoritária já que se diferencia disto por vários motivos que a situam entre as línguas européias de demografia reduzida:

Pelo seu estatuto jurídico
É oficial num estado soberano (Andorra) e, ao lado do castelhano, em três comunidades autônomas espanholas, fato que comporta uma presença muito significativa na Administração pública, o seu ensino obrigatório no sistema educativo (na Catalunha o catalão é também a língua veicular da educação) e uma elevada presença na universidade.

Pela sua demografia
O nome de pessoas que o falam é superior ao das que falam finlandês ou dinamarquês, e equiparável ao das que falam sueco, grego ou português na Europa.

Pela sua situação sociolingüística
Não foi abandonado pelos seus falantes e é transmitido de modo intergeneracional com normalidade.

Pela sua presença crescente nos meios de comunicação há 25 anos, apesar da inexistência dum espaço audiovisual para toda a comunidade catalano-falante.

Atualmente a Catalunha conta com três canais de televisão (TV3, K3/33, 3/24) de grande aceitação popular que emitem 100% em catalão, além dum canal por satélite. A Comunidade Valenciana conta com dois canais públicos: Canal 9, parcialmente em valenciano, e Punt 2, que emite 100% em valenciano. A seu turno, o Governo das Ilhas Baleares criou a televisão IB3, que também emite parcialmente em catalão. A tudo isto cabe acrescentar um número crescente de televisões locais e as desconexões territoriais de cadeias públicas estatais.

Em relação à rádio, as várias emissoras públicas autonômicas da Catalunha (icatfm, Catalunya Informació, Catalunya Música, Catalunya Cultura, Com Ràdio) e da Comunidade Valenciana (Canal 9), junto com algumas emissoras privadas (Rac 1, FlaixFM...) e um grande número de emissões locais garantem uma presença destacável do catalão nas ondas (mais de 50%, muito variável segundo os territórios).

A presença da língua na imprensa diária representa 20% da difusão total de imprensa quotidiana, apesar da existência de vários jornais exclusivamente em catalão: Avui, El Punt, Regió 7, Diari de Girona e El Nou 9 na Catalunha; o Diari de Balears em Maiorca, e o Diari d'Andorra e o Periòdic d'Andorra no Principado de Andorra, além das versões catalãs dos jornais El Periódico e Segre e o seminário El Temps, editado em Valência. A isto cabe acrescentar umas 250 revistas e publicações especializadas ou de âmbito local e de periodicidade variável. Por outro lado, esta situação é compensada pela proliferação de jornais digitais.

Pela sua tradição e vitalidade literária
Conta com textos escritos, ininterruptamente, desde o século XII e atualmente conta com mais de 1.200 autores literários vivos. Todos os anos publicam-se uns 10.000 volumes em catalão, 12,1% do total do Estado espanhol.

Pelo seu equipamento lingüístico
É um idioma plenamente codificado, normatizado e padronizado com um total consenso acadêmico e os seus recursos lingüísticos e estudos sobre gramática, lexicografia, etimologia, dialetologia, terminologia, história da língua ou onomástica são comparáveis com os das grandes línguas neolatinas. Além disso, dotou-se de ferramentas terminológicas necessárias para poder estar presente em todos os novos âmbitos tecnológicos (www.termcat.cat).

Pela sua presença no mundo das TIC
Segundo a informação do Softcatalà 2005 (a partir da base de dados do buscador Google), o catalão é hoje em dia a vigésima sexta língua da Internet, com 7.140.000 páginas. E a décima nona pelo número relativo de webpages indexadas por falante, na frente do castelhano (24ª. Posição), do português (31ª.) e do chinês (33ª.). O uso global do catalão supera 50% nos sites de caráter comercial na Catalunha, com grandes diferenças segundo os setores.

Além disso, existem versões catalãs da maioria dos softwares e sistemas operacionais, e algumas grandes firmas já tomaram a decisão de incorporar o catalão como uma opção lingüística de série para os seus produtos. Mesmo assim, os grandes motores de busca oferecem também os seus serviços em catalão.
Como fato extraordinário, cabe assinalar que a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN) aprovou em 16 de setembro de 2005 a criação do domínio .cat, que o primeiro do mundo que se fundamenta numa definição puramente cultural e lingüística. A proposta foi apresentada pela iniciativa social e recebeu o apoio de mais de 68.000 entidades, organismos e particulares.

(Fonte: DEPARTAMENT de Cultura de la Generalitat de Catalunya. Mapes per a l'estudi de la llengua catalana. 2. ed. Barcelona: Eumo, 1992, p. 25-33; EL CATALÀ, una llengua amb història. Barcelona: Institut Ramon Llull, p 8-12.)

   
Fragment de les miniatures del Breviculum.
 
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