A primeira tentativa de publicar as obras
de Raimundo Lúlio (Ramon Llull) coube ao alemão Ivo
Salzinger, no começo do século XVIII, graças
ao qual se publicaram em Magunça, entre 1721 e 1742, oito
volumes tamanho fólio. Não houve continuadores do
projeto até o presente século, quando, entre 1906
e 1950 se publicaram em Palma de Maiorca (Espanha) vinte e um volumes
da edição catalana das obras de Ramon Llull, editados
em grande parte graças a Salvador Galmés. Contudo,
com estas duas empresas de grande porte conseguiu-se publicar apenas
uma terceira parte da imensa produção luliana que
alcança no total 265 obras. Salzinger publicou 48 e Galmés,
35.
Friedrich Stegmüller, outro alemão, quis melhorar essa
situação e em 1957 fundou o Raimundus-Lullus-Institut,
na Universidade de Freiburg, com a finalidade de editar a obra latina
de Ramon Llull. O primeiro volume apareceu dois anos depois, e recentemente
acaba de ver a luz o vigésimo. No total, os vinte volumes
abrangem mais de 150 obras do Lúlio.
Agora, sob os auspícios do Patronato Ramon Llull e assessorado
por uma Comissão Editora, reiniciou-se, conforme modernos
critérios científicos, a edição da
obra catalana do filósofo maiorquino. Até o momento
foram publicados dois volumes.
O professor Anthony Bonner é o diretor da edição e a Comissão
Editora consta dos seguintes membros: Lola Badia, Miquel Batllori, Germà Colon,
Antoni Ferrando, Jordi Gayà, Jesús Huguet, Joan Miralles, Jaume
Pérez, Gret Schib, Peter Walter e Xavier del Hoyo. |
I - Llibre de virtuts e de pecats
ed. Fernando Domínguez Reboiras
Escrita durante a última estadia de Ramon Llull em Maiorca,
no inverno de 1312-1313, perto já dos oitenta anos, esta
obra apresenta 136 breves sermões que deveriam ser utilizados
como modelo pelos pregadores da época. Em vez de se basear
em temas bíblicos, como era costume, constrói o discurso
sobre combinações binárias de virtudes e pecados,
a fim "d'enamorar lo poble de virtuts contra pecats", o que forma
parte de um projeto mais amplo que visava "donar ciència
al poble". A obra se conserva num manuscrito catalão e cinco
latinos. Até 1987, quando o mesmo editor publicou a sua
versão latina, o Llibre de virtuts e depecats era inédito
e portanto desconhecido dos pesquisadores lulianos.
II - Libre del gentil e dels tres savis
ed. Anthony Bonner
Redigido em Maiorca, ou talvez em Montpellier, entre 1274-6,
e muito provavelmente para servir de texto na escola missionária
de Miramar, apresenta três sávios - um judeu, um cristão
e um muçulmano - que intentam persuadir um gentio da verdade
de suas respectivas crenças. Os argumentos, baseados em
combinações binárias dos atributos divinos,
das virtudes e dos vícios, aparecem prenhes de cortesia
e respeito. Chega-se ao ponto - notável nas discussões
religiosas da época - que, quando no fim do texto o gentio
quer manifestar qual a religião por ele escolhida, os três
savios advertem-no de que preferem ignorar a escolha, a fim de
poderem se aprofundar nas suas interessantes e instrutivas discussões.
A obra se conserva em quatro manuscritos catalães, um francês,
um castelhano e doze latinos; e foi editada repetidas vezes nesses
idiomas, além do italiano, inglês e alemão.
Apresenta-se aqui a primeira edição crítica
do texto catalão, levantada sobre um manuscrito até o
presente não consultado, e confrontado com todas as fontes
importantes.
III - Llibre dels articles de la fe
ed. Antoni Joan Pons
Llibre contra Anticrist
ed. Gret Schib
Què deu hom creure de Déu
ed. Jordi Gayà
Ramon Llull (1232/3-1316) concentrou todo seu esforço
no objetivo de construir um meio eficaz na missão entre
os muçulmanos. O fruto foi sua Arte. Ao longo de suas numerosíssimas
obras sempre quis dar exemplo de como devia ser usada a Arte, e
como ela poderia ser útil em todas as ciências. A
partir desta perspectiva geral, Ramon Llull preocupou-se também
pela situação em que se encontravam os própros
cristãos. Duas coisas chamavam-lhe especialmente a atenção:
a escassa formação das pessoas e as discussões
pouca ortodoxas que ocorriam em alguns ambientes universitários
por causa do averroísmo. As três obras do volume III
podem ser incluídas no primeiro dos dois objetivos assinalados.
Consistem numa exposição geral das doutrinas cristãs
utilizando os mecanismos da Arte. O De Antichrist (escrito em Roma
nos anos 1290-2) pode ser visto como dirigido aos movimentos milenaristas,
freqüentes entre os franciscanos, por exemplo. Após
expor as doutrinas essenciais do cristianismo, dedica-se a atacar
o que na sua interpretação eram os "erros semeados
pelo Anticristo que devia vir." Finalmente, expõe algumas
recomendações a respeito do modo como o cristianismo
devia com a sua vida encarar esses erros. O Llibre dels articles
ou Apòstrophe (escrito em Roma no ano de 1296) é uma
exposição mais sistemática da discussão
dos catorze artigos da fé. Sugere um exemplo bastante importante
da teologia de Ramon Llull. O Llibre què deu hom creure
de Déu (escrito em Arménia, Asia Menor, no ano de
1302) é uma obra simples, também sobre os artigos
da fé, dirigida aos cristões da Ásia Menor,
(provavelmente os comerciantes e os que se encontravam lá a
negócios). A cidade onde escreveu Llull era considerada
a porta da "rota da seda". Poder-se-ia dizer que as três
obras formam um conjunto homogêneo que apresenta com bastante
exatidão a teologia luliana numa língua que não
era o latim acadêmico. Se nos volumes anteriores cabia destacar
seu tom literário, estas três obras se notabilizam
pelo uso científico ou técnico do catalão. |